Antes de começar a falar, muitas crianças usam os dentes para se comunicar, mas lidar com as mordidas na escola pode ser um grande desafio para mães, pais e até para professores e equipe pedagógica.
Administrar bem as mordidas favorece o desenvolvimento infantil e a interação entre os colegas, ajudando as crianças a perceberem outras formas de expressão, impedindo rótulos e estigmas infundados.
No texto de hoje, vamos falar mais sobre esse assunto, explicar de onde vem essa mania de morder e dicas de como lidar com as mordidas das crianças na escola.
Afinal, por que os pequenos gostam tanto de morder?
Primeiro de tudo, é importante saber que esse comportamento de morder faz parte do desenvolvimento. É normal até os três anos de idade e vai passando quando a criança adquire novas habilidades.
Um dos motivos é a descoberta do próprio corpo. Desde o aparecimento da dentição até por volta dos 2 anos, eles mordem brinquedos, sapatos e até os próprios pais, professores e amigos para descobrir sensações e movimentos.
O psicólogo francês Henri Wallon (1879-1962) escreveu que é assim que a criança constrói seu “eu corporal”.
“É nessa fase, em que ela testa os limites do próprio corpo, onde o dela acaba e começa o da outra pessoa. E os dentes que estão nascendo estão em evidência”, explica Heloysa Dantas, professora aposentada da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
O austríaco Sigmund Freud (1856-1939) também ajudou a entender as dentadas. O fundador da psicanálise definiu como fase oral o período em que a criança sente necessidade de levar à boca tudo o que estiver ao seu alcance, pois o prazer vital está ligado à nutrição. Ela experimenta o mundo com o que conhece melhor: a boca.
Outra razão é a necessidade de se comunicar. Os pequenos não dominam a linguagem verbal e utilizam a mordida para expressar descontentamento e irritação ou para disputar atenção e objetos com os amigos.
Amor e carinho também podem ser expostos com uma mordida, como fazem os adultos ao afagar os bebês. Os pais devam ficar cientes que isso é um fato comum nas salas de aula, onde as crianças convivem com outras que ainda estão em fase de amadurecimento do Sistema Nervoso Central. Elas experimentam as reações dos outros através de suas ações e consequências.
Os adultos necessitam usar de coerência e não supervalorizar a mordida. O professor e os pais, precisam perceber qual sentimento está em jogo para agir sem drama.
Sem rótulos nem drama
A separação dos pais e algumas situações novas vividas na escola podem gerar desconforto e insegurança.
Muitas vezes, crianças que mordem na escola são crianças mais possessivas que querem atenção exclusiva: filhos únicos, filhos de pais que estão em processo de separação, ou ainda crianças que estão com irmãozinhos recém-nascidos em casa.
De alguma forma ela precisa extravasar suas angústias e ansiedades. Como ainda não tem um repertório de vocabulário eficiente para comunicar-se, utiliza o mecanismo da mordida como manifesto. Um trabalho em grupo, com argila, em que se trabalha a função da boca, dos dentes, da língua, da saliva, dos lábios etc., acaba sendo um instrumento pedagógico bastante eficaz.
Sem poder falar, os dentes viram um recurso de expressão. Assim, fica fácil compreender por que as crianças que mordem não podem ser rotuladas. Além da descoberta do corpo e da expressão de sentimentos, elas ainda estão construindo a identidade.
Quando estigmatizados, os pequenos sentem dificuldade em desempenhar outro papel que não o de agressor. “Eles podem ter dificuldades de se relacionar. O que seria uma fase transitória pode se cristalizar num comportamento permanente”, explica Denise.
A situação é muito comum, tanto em casa como na escola, e não se trata de negligência por parte dos adultos.
A adaptação escolar e as mordidas
Nessa época de adaptação escolar, as mordidas começam a ocorrer muito mais. Quando as mordidas ocorrem é importante mostrar para quem mordeu, o que causou ao amigo e pedir para que ajude a massagear, pôr gelo no ferimento. O colega mordido vai se sentindo melhor até parar de chorar.
Não brigue com quem mordeu, mas seja firme, lembre-se que é apenas uma fase e que irá passar. Ela inda não tem relação com a agressividade. Caso esse comportamento continue após os 3 anos, aí vale a pena começar a investigar mais a fundo.
Vera Regina
Coordenadora Pedagógica
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