Não é preciso ter um filho para conhecer a palavra birra. Quem nunca presenciou uma criança esperneando por algo no mercado, lojas ou outros locais públicos?
De repente, aquela criança que parecia tão quieta e tranquila há alguns minutos, começa a gritar, chorar, se jogar no chão e provocar os mais diferentes sentimentos em você. Da vergonha à raiva, passando até mesmo pela vontade de rir. Lidar com a birra é um verdadeiro desafio para os pais.
Mas, afinal, o que é birra?
A birra é uma explosão de raiva muito comum em crianças pequenas. Ela faz parte do processo de maturação do cérebro. Ou seja, é um comportamento biologicamente normal, mas não muito aceitável socialmente.
Por isso, quando ela acontece, alguns pais acabam perdendo a cabeça justamente por não saberem como agir diante dessa explosão do seu filho.
Por que a birra infantil acontece?
A birra é um processo completamente normal, é uma forma do seu filho demonstrar que possui vontade própria.
As manifestações da vontade da própria criança que, por volta dos 2 ou 3 anos, percebe o que já se pode fazer, ouvir, contestar e testar limites e, normalmente escolhe alguma coisa negativa, chama-se birra.
As crianças gritam, choram, esperneiam, dão pontapés, agitam os braços, deitam-se no chão, atiram brinquedos e objetos pelas coisas mais simples: não querem comer a sopa, não querem tomar banho, não querem dormir a tarde, querem aquela boneca ou guloseima no hipermercado, ou loja. Querem demonstrar que já possuem vontades e desejam que elas sejam sempre satisfeitas.
As birras são uma manifestação saudável das emoções, sentimentos, vontades e necessidades das crianças, embora testem bastante nossa paciência e às vezes nos tiram do sério. As crianças estão desenvolvendo a sua personalidade, só não sabem como expressar-se da melhor forma porque, nas suas mentes, as necessidades do momento precisam ser satisfeitas.
Acredito, por experiência de mais de 30 anos em educação, que não devemos ceder às birras de uma criança, nem por culpa por não passar muito tempo com ela, nem porque está boazinha nos últimos tempos e muito menos simplesmente por estar morrendo de vergonha numa loja. Se cedemos, vamos passar a mensagem de que as birras são normais e perfeitamente aceitáveis para se obter aquilo que desejamos e, pior, damos asas a um círculo vicioso que se tornará cada vez mais difícil de controlar e ultrapassar.
Ao não conceder o desejo da criança, estamos mostrando a ela várias coisas:
Existe um tempo para tudo, ou seja, ela não pode ter tudo aquilo que pretende, na hora que pretender;
Existem regras e limites que têm de ser respeitados sempre;
É preciso aprender a lidar com as suas próprias frustrações;
É preciso saber esperar pelas coisas que quer e que, a maior parte das vezes, terá de lutar para as conseguir.
É importante manter a calma. Difícil, mas eficaz. Seu comportamento negativo ou positivo servirá de exemplo. Procure respirar bem fundo, não eleve a voz, não ceda aos nervos e seja claro.
Veja também: 10 situações chatas com as quais as crianças podem aprender lições valiosas
Ignore-a.
Pode parecer, à primeira vista, um pouco desumano ignorar uma criança, mas, no fundo, pretende-se que ignore a birra – não responda à criança, não olhe para a criança, não acuse o seu comportamento de forma alguma. Nas primeiras birras, essa atitude pode não resultar em pleno, aumentando até a sua intensidade (para chamar a sua atenção claro!) mas, se o fizer regularmente, as birras vão acabar porque a criança vai perceber que não estão a surtir efeito.
Evite utilizar a força física com a criança.
A birra, em si, já é tão “violenta” e descontrolada que bater na criança vai apenas incendiar um fogo que já está a arder, e muito. Para além disso, as birras podem ter subjacentes outros cenários: cansaço, fome, stress… o que significa que o mais importante nesse momento é reconquistar a estabilidade.
Deixe a criança sozinha.
Se a birra ocorrer em casa ou noutro espaço familiar, experimente distanciar-se da criança, deixando-a sozinha durante alguns minutos ou segundos. Claro que uma criança zangada só pode fazer estragos. Por isso, controle esse tempo conforme a sua idade – os especialistas apontam um minuto para cada ano da criança (se a criança tiver 5 anos, não a deixe sozinha mais do que 5 minutos, por exemplo).
É uma espécie de “castigo” que funciona muito bem porque não tendo “audiência”, a criança vai acabar por se acalmar mais rapidamente.
No entanto e para se salvaguardar de uma possível parte dois, só a deixe voltar quando estiver tranquila e em silêncio pelo menos durante 30 segundos seguidos.
Não ameace com castigos que não vai conseguir cumprir.
Se optar por esta estratégia ameaçadora, mas sem consequências reais, a criança não terá problema algum em repetir a birra. Uma criança tem de estar ciente das consequências que possam advir das suas ações, boas e más. Da mesma forma que deve ser elogiada por ter arrumado o seu quarto ou brinquedos, tem de ser castigada se bater no irmão ou fizer uma birra.
Uma das estratégias mais utilizadas com as crianças que fazem birras é colocá-las sentadas numa cadeira já designada para o efeito ou então numa esquina, de onde apenas podem sair quando a mãe ou pai disser. Ora, como detestam estar confinados, os miúdos normalmente acalmam-se rapidamente e, ansiosos para saírem da sua “prisão”, começam logo a pedir para sair com promessas de bom comportamento.
Como lidar com birras persistentes? Claro que existem crianças com pulmões de verdadeiros sopranos e pilhas que parecem não ter prazo de vida, resultando em birras que não cessam e têm tendência a piorar.
Nesses casos, é importante estabelecer contato físico com a criança (colocar-se ao seu nível, abraçá-la, pegá-la no colo), com o intuito de a acalmar, sem ceder ao seu pedido. Concentre-se no seu estado emocional e não na sua exigência, falando com ela tranquilamente, de preferência sobre outras coisas.
Felizmente, a fase das birras é isso mesmo: uma fase passageira. No entanto, se sentir que as birras da sua criança se tornam mais frequentes e sem sinais de abrandamento, fale com o seu pediatra.
Converse muito.
Findada a birra, é importante conversar com a criança sobre aquilo que se passou – o que estava certo e o que estava errado – porque é que não pode voltar a acontecer, as consequências de uma futura birra e as consequências do bom comportamento. A autodisciplina é ensinar a criança a controlar, positivamente, as situações em que se encontra. Uma vez conquistada, as birras desaparecem, quase como por magia.
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